quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Espartano - Parte 1

Não passava do meio-dia quando ele chegou. lembro-me claramente das palavras, lembro da chuva fina que teimava em cair sobre nós. Ela parecia pedir que saíssemos dali, mas continuamos, com o sangue fervendo.
Já haviam se passado dois dias desde que deixamos a capital e nosso alimento se resumiu a alguns carneiros doados por bons homens que os pastoreavam, e a sede era saciada com a água de nossos rios, banhados por sangue, e com a melhor bebida de nosso país, entregue diretamente do templo de nosso senhor, Ares, por seus sacerdotes.

Nosso general, nosso líder, era violento e vitorioso, suas conquistas eram consideradas gloriosas, impossíveis, únicas. Alguns o chamavam de reencarnação de nosso senhor.
Seu nome nunca era dito no campo de batalha. Alguns diziam que mencioná-lo trazia o azar, atraía o Hades, outros, que, se ele ouvisse seu nome ser pronunciado por qualquer um, esse qualquer um teria suas mãos decepadas por lâminas cegas e sua língua arrancada por cães.
Sua fama o precedia, soldados de várias cidades e povoados se uniam ao nosso grupo ao saber de sua passagem.

Lembro-me que estava ao seu lado, ele não montava cavalos, nenhum tipo de montaria, parecia gostar de sentir o cansaço, fadiga, dor, sua armadura escurecida pelo sangue de inúmeras guerras reluziam a luz de Helios que, agora, despontava no céu, afastando a chuva fina. Não éramos muitos, talvez mil, ou dois mil homens, não mais.
Estávamos num povoado morto, num deserto, seco, árido, só haviam chamas e cadáveres de mulheres e crianças, onde estariam os homens da pequena aldeia? Nosso general olhou desconsolado para os corpos e o ódio surgiu instantaneamente em seus olhos.

'Vamos continuar.'

Passamos mais algum tempo e entramos numa terra plana, poucas rochas perdidas num campo amplo, uma relva baixa.
Decidímos parar e descansar, aproveitar um pouco da paz que nos havia sido dada. Mas Noto, o vento sul, nos aplacou com um forte cheiro de morte e decidímos nos preparar para o pior.

Nossa paz não durou muito tempo, ao entardecer, quando Helios decidiu guiar o carro do Sol e dar lugar a Selene sentimos algo. O chão sob nossos pés começou a tremer, cânticos ofensivos eram entoados, nosso general deu dois passos para fora de nossa formação.

'Fiquem aí...'

Sua voz ecoou em nossas mentes. E ele começou a correr em direção do som. Mas não deu nem mais três passos.

Não sei quantos eram, e no momento não importava.
Eram milhares. Os bárbaros que estavam invadindo nossas terras agora estavam furiosamente correndo em nossa direção, correndo desesperadamente e brandindo suas foices, espadas e machados contra nosso grupo.
Eles eram muitos, mas tínhamos experiência e um homem considerado um semi-deus do nosso lado. A vitória parecia certa para nós, mas não isso que aconteceu.

Fomos massacrados.

No início, tínhamos suas cabeças e corações em nossas mãos, mas a cada dois que nossas lâminas derrubavam, cinco surgiam. Vi meus irmãos serem decepados, queimados, a até torturados. Não tinhamos chances. Após horas suportando, fui abatido, uma estocada na nuca me derrubou e eu pude ver.

Ele implorando por sua vida e pela vida de seus homens.

- Ares!!!.....Destrua meus inimigos e minha vida será sua!!!

(Allan Wagner, 22:02 - 22:51, 02/09/2010)

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