segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Coliseu na Quadra.

A sineta tocou.

Saímos da sala de aula apressados pra tentar pegar uma bola cheia, queremos jogar queimada hoje, mas os 'garotos legais' sempre chegam primeiro!

Mas hoje, Ah! Hoje estávamos preparados! Pusemos cola-tudo em todas as bancas da sala de aula, e assim que a sineta tocou ninguém conseguiu se levantar além de nós! Está certo que a Musa da sala e outras três garotas ficaram só de calcinha... já que estavam de saia.

Naquele momento nos perguntamos se devíamos apreciar aquilo ou se corríamos... apreciamos por alguns segundos, suficientes pra se manterem em nossas mentes até o final do ensino médio! Saímos em disparada pro armário de bolas!

Ah! O cheiro doce de bolas novas, cheias de ar, cheias de diversão e, finalmente, cheias de moral pra arremessamos elas contra quem quiséssemos...

Não demorou muito até que os grandalhões da oitava série apareceram e quiseram as bolas, mas dessa vez, não as abandonaríamos sem uma boa luta! Éramos apenas oito contra todos os malvadões das seis turmas da oitava!

Então venham pegar! Disse o mais baixinho e gordinho de nós.

Vamos mesmo! Respondeu o grandão loiro e sem cérebro da oitava.

Um segundo depois estávamos numa ferrenha batalha de bolas, sempre a bola acertava o focinho de uma aluno deles e retornava as mãos de um dos nossos! Porém, quanto mais atingíamos nossos inimigos com as bolas, mais deles pareciam surgir! Pareciam Zumbis ou Orcs enfurecidos! A cada dois que caíam três surgiam em seu lugar!

Sem que percebêssemos, alguns alunos de nossa sala – os poucos que haviam se soltado das cadeiras, inclusive a Musa, agora devidamente vestida com uma espécie de cobertor abaixo da cintura - passaram pelo ataque incansável de bolas e se juntaram ao nosso pequeno grupo! Agora éramos quinze!

Vi os oitavanistas com sangue em seus olhos enquanto tentavam adentrar a quadra que agora era de posse nossa! Nerds de todas as séries começaram a acompanhar pelas janelas das salas nossa batalha, em segundos começamos a ouvir gritos de apoio!

O Coliseu da Quadra da sétima série estava fervendo!

Algumas poucas bolas começavam a escapar de nossos dedos já cansados... eles agora tinham a posse de cerca de meia dúzia de bolas! Mas aquilo não nos impediria!

Acertaram um ou dois dos nossos! Até que nosso gordinho favorito foi abatido covardemente pelo inimigo que atirou uma pedra contra a Musa! Ele, corajosamente, jogou-se na frente e recebeu o ataque no meio do peito. Atordoado murmurava poucas, porém incompreensíveis palavras...

A fúria tomou conta de nosso grupo. A Musa agora cuidava carinhosamente dele, que inveja! Mas era por ele agora que a batalha continuava! Haviam se passado mais de vinte minutos e o sinal não tocava! Mas o que estava acontecendo? As legiões de oitavanistas levantavam-se, ignorando nossos ataques e recebendo outros... caiam, porém levantavam com mais ódio!

Então um milagre aconteceu! Um não, dois.

Nosso gordinho estava plenamente recuperado! E agora lançava duas, até três bolas de uma vez, esmagando os alunos mais velhos contra o chão frio e úmido da quadra! Mas aquele não tinha sido o grande milagre! O milagre de verdade ocorrerá segundos antes, o verdadeiro motivo dele ter se levantado com tanto fulgor e brilhantismo!

A Musa aceitara seu pedido de namoro - que ele havia feito há umas três semanas - e o havia beijado... Inveja dupla!!!

Ele derrubava os mais velhos como se fossem apenas crianças de pré-escola! Sua força, velocidade e precisão eram assustadoras! Era o guerreiro perfeito! E estava levando a batalha a outro nível!

Então, o cansaço invadiu nossos corpo e espíritos...

Já se passavam trinta minutos de intervalo e nada do sinal, mesmo exaustos, nossa plateia queria mais e mais. O inimigo parecia estar mais cansado, afinal, estava recebendo boladas há, precisamente, trinta e cinco minutos.

Então paramos de atacar. Os oitavanistas não esboçavam nenhum tipo de ofensiva... Mas nada do sinal tocar. Esperamos mais cinco minutos e não havia mais nenhum inimigo!

O coliseu agora estava calado. Podíamos ver pelas janelas os olhos de nossos companheiros brilhando, o orgulho em seus rostos, o vigor em seus sorrisos...

Então o sinal tocou, o professor de Educação Física entrou na quadra e começou a recolher as bolas e não pediu ajuda.

Apenas disse: 'Bom trabalho'

Sorrimos e voltamos correndo para a sala... e nosso gordinho agora tinha ainda mais motivos pra sorrir, era nosso herói e ainda tinha ganho a Musa.

As palavras do professor tinham uma certa força... por muito tempo ficamos imaginando se, aquela batalha já não estava sendo planejada por anos, por gerações anteriores, mas nunca existiu um grupo com tanta vontade de mudança como o nosso...

O orgulho que há tanto nos foi tomado, agora havia sido estabelecido novamente, nenhuma outra geração de Nerds seria vista como desgraçada ou incompleta, éramos os novos semi-deuses daquele colégio.

(Allan Wagner, 21:01 – 21:27, 20/09/2010)

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