segunda-feira, 6 de setembro de 2010

CFCH.

Olhando aqui de cima, não parece tão alto, me sinto como um gigante pronto pra pisar nas formiguinhas lá de baixo - e, pra ser sincero, tenho uma ou duas formiguinhas que gostaria de pisar mesmo.
Uma cuspidela pra ver onde ela vai parar...

Acertei! O carro do reitor. Ou parece ser o carro dele, ninguém fora ele pode ter um carrão importado daqueles...

Dizem tanta coisa, contam tantas histórias desse prédio, mas eu não achei nada ainda. Não ouvi nenhuma assombração me mandando pular, nem vi nada que pudesse me dar medo. Pelo menos não sozinho, mas lembro que, quando vim aqui com minhas duas melhores amigas, juro ter visto um anão no final do quarto andar segurando algo e com olhos vermelhos em fúria. Daquele dia eu lembro... Dá calafrios só de pensar.

Mas voltando ao momento atual.

Não lembro o motivo de querer subir nesse prédio de novo, principalmente a essa hora, quase oito da noite, faltando vinte e dois minutos mais exatamente. Acho que os fantasmas daqui gostam de se mostrar, gostam de atenção, pois desde que cheguei nessa universidade, só ouvi relatos de gente se suicidando pela manhã e de vez em quando a tarde.
Talvez eu esteja precisando de um pouco de adrenalina, esteja precisando sentir algo diferente, sentir a adrenalina correr no meu corpo, pelo menos uma vez, como nunca senti. Mas, com certeza, a adrenalina não vai aparecer sozinha.

Estou pensando, será que os fones do meu ouvido estão altos demais? Talvez por isso não ouça os sussurros assombrados me mandando fazer algo que eu não queira, ou será que estou de bem demais com a vida que não sou afetado? Não faço Psicologia, Filosofia nem nada mais 'emocional' assim, estou bem com meu curso de artes, com minha vidinha e outros relacionados...

Vou desligar o celular e tirar o fone, talvez Avenged Sevenfold afaste as assombrações do prédio...

Sexto andar e continuo subindo, pelas escadas, obviamente, pra tornar as coisas mais emocionantes. Por enquanto, apenas o escuro está fazendo minha adrenalina correr - em doses menores verdade, mas correndo. Minha mãe foi uma pessoa frustrada em relação aos meus medos, nunca tive problemas com escuro e raramente tinha pesadelos, poucas vezes corri pra cama dela pedindo abrigo... Acho que os monstros tinham muito mais medo de mim do que eu jamais tive deles.

Oitavo andar, nada ainda. Agora o frustrado sou eu, sempre acreditei em coisas de espírito mas até agora nada. E eu também não sinto nada diferente, da última vez que me meti com espiritismo e afins acabei com calafrios pesados e sensações de presenças que ninguém via ou sentia. Apenas eu.

Décimo primeiro andar. Cansei. Não, não cansei de procurar, cansei de subir as escadas. Vou me sentar nas escadas, é o melhor que eu faço, acho que tem uma garrafinha de água na bolsa. Uma vasculhada pelo andar e nada de novo.

Até que alguém grita.

Olho rápido pro horizonte em aberto atrás de mim e um vulto corta o céu numa velocidade assustadora. Alguém pulou, mas de qual andar?
Corro mais dois andares acima, por mais que meu corpo esteja pedindo pra que eu pare, não consigo. A curiosidade é maior, mais forte.
Décimo terceiro. Ou décimo segundo, na verdade, parei de contar quando cheguei ao quinto. Pedaços de tijolos, ou algo assim, no chão. Tem alguém perto do parapeito destruído, que bom, apenas alguém brincando de pular, só pra me frustar... Mas... Não. Não é um estudante... A menos que seja de direito, pois veste um terno empoeirado preto.

O rosto já é de uma pessoa idosa, alguns pontos pesadamente calvos na cabeça e uma barba branca rala no rosto. Esperava um corpo mutilado ou algo assim pra me assombrar, mas aquilo é suficiente. Seja quem for, não gostou da minha chegada, olhou com uma cara feia, enrugada e velha. Terno bonito, é verdade, mas a cara não. Se aproximou dois passos e parou, olhou-me de cima abaixo. Estou suando frio, mas não consigo deixar escapar um sorriso de alguém feliz de ter encontrado o que queria, ou que acha ter encontrado o que queria. Fechou a cara de novo, claramente não gostou de meu sorriso.
Bateu o pé, o som ecoou por todo o andar. Sinto que quer me intimidar. Mas dou dois passos a frente. O rosto dele se contorceu, e bateu o pé ainda mais forte, juro que ouvi um estalo seco, como se uma rachadura estivesse sendo aberta debaixo do piso. Mais um passo meu.
Um gemido seco cortou a garganta daquele senhor e quando abriu a boca apenas disse que saísse dali. Disse meu nome. Todas as letras e ordenou que saísse imediatamente dali. Não movo um músculo de tão tenso. Ele olha bem fundo nos meus olhos. Então alguma coisa sussurra na minha cabeça.

Pule.

Aquilo sim me intimidou. Dei dois passos pra trás.

O rosto do velho tomou um ar sério como se fosse meu avô ou algo assim. Ele virou de costas. Entrou na primeira porta atrás dele. A paralisia passou instantaneamente e corro pra dentro da sala. Era pequeninamente minúscula e não havia portas pra outra sala nem nada, apenas um bebedouro, dois quadros feios e duas daquelas poltroninhas de consultório, com três assentos cada uma. Ninguém estava lá.

A adrenalina que corre é suficiente por uma noite. Basta.

De uma vez por todas vou descer desse prédio macabro, mas, e quem pulou? Corro até o elevador e aperto rápido o botão do térreo, espero que tenha sido impressão minha, o grito, o vulto caindo. Mesmo que esteja escuro, acho que o grito chamaria atenção de alguém. Mas, ninguém aqui embaixo parece ligar para o acontecido, será que a pessoa pulou de um ponto cego do prédio e só poderá ser vista pela manhã?

Sento na entrada do prédio. Minhas pernas estão tremendo. Será que eu estava no décimo segundo ou décimo terceiro andar, não importa. Um última olhada não vai fazer diferença, espera... Tem alguém no parapeito. Merda, vai pular!
Não vai dar tempo de subir tudo de novo!
Pulou.
Podia ser eu.
Vai sujar a calçada.
Mas... A pessoa sumiu no ar... Acho que faltavam uns cinco metros... Tem alguma coisa ali, onde a pessoa cairia. Um bottom?
O bottom da minha mochila, o único bottom da minha mochila.
Senti algo se revirar dentro do meu estômago. Acho que isso é medo. É uma sensação nova.

Tudo bem, entendi, não devo mais entrar no prédio.
Seja quem for aquele senhor, acho que não queria me fazer mal.
Vou seguir seu conselho e agora, vou voltar pra casa, no meu estado, sinto que é o melhor a se fazer....

(Allan Wagner, 20:39 - 21:00, 06/09/10)

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