Ligou a televisão como sempre fazia.
Pra variar um pouco, não tinha nada passando e pela hora não iria passar mais nada.
Olhou desconsolado pela janela pensando no que fazer no dia seguinte, vinha resumindo a vida a acordar tarde, fingir se interessar na faculdade, e esperar o dia acabar. O dinheiro que recebia por trabalhar apenas uma vez por semana o sustentava durante todo o mês. Acabara um relacionamento curto, três ou quatro meses, no máximo.
Há algum tempo, alguns de seus amigos estavam evitando aparecer em sua casa. Talvez por agir o tempo todo como alguém superior, que não ouve nem aceita opiniões, por agir e fazer apenas o que lhe interessasse, achando ser um líder nato, ignorando pedidos simples das amizades que tinha criado, e agora destruí-as devagar, e talvez por jogar seus amigos em afazeres que eram obrigação sua, mas ignorava... Na preguiça, esperava o primeiro que aparecesse para que tais afazeres fossem terminados.
Morava com mais alguém da família, mas essa pessoa, por mais que a amasse, não estava suportando. Passava o dia fora, trabalhando e estudando, enquanto ele nada fazia pra mudar o estado em que se encontrava.
Dizia estar se aproximando de alguém, dizia, em sua presunção ilimitada, que era perfeito pra ela.
Mas o irmão dela, grande amigo dele, sabia.
Ambos haviam conversado sobre isso, mas seu amigo sentia que, no fundo, ele não era metade do que sua irmã precisava. Pois depois de alguns meses, um namoro totalmente falho, inseguro e imaturo, mostrara a cara de irresponsável. Se demostrava que nada queria com a vida, como iria desejar algo com alguém tão forte e especial como sua irmã? Não aceitaria essa aproximação assim.
Depois de alguns dias vendo-o aproximar-se dela percebe que ela era muito madura e bem resolvida pra acabar se envolvendo com ele. Tinha personalidade pra não deixar nada tão insensato evoluir.
Afirmava veementemente que procurava um emprego, mas não o fazia, esperava que algo caísse em seu colo como um milagre. Algo grande, que, no momento, não fazia por merecer.
Mas, infelizmente, para a cabecinha ignorantemente inteligente dele, estava fazendo tudo do jeito certo, e merecia o melhor, pois era uma ótima pessoa a qual todos admiravam.
Mero engano.
Deixava de ser um modelo, mais parecia um ditador tirano, um cientista solitário e auto-suficiente, um vilão sem idéias concretas ou inteligentes de verdade. Entregava o plano final como um grande idiota.
As atitudes que incomodavam agora eram vistas com mais frequência, e ele era o único a não ver. Continuava agindo como um adolescente de quinze, dezesseis anos, vivia de bandas e sonhos improváveis – nunca impossíveis, nada é impossível –, e achava que teria o melhor emprego por alguém achar que ele era o máximo, teria vários amigos que na verdade o babariam como um herói grego... Que teria qualquer mulher aos seus pés. Só havia esquecido que a beleza não significa nada, nem poesias tristes, dignas de pena, nem saídas consideradas inteligentes, nem comentários abalizados, nada surtia mais efeito...
Guarda um guia prático para o inútil dentro da mente. Não vê que, mesmo que seus amigos sejam mais jovens, ou mais velhos, todos estão tentando traçar suas linhas guias pra frente, enquanto ele parece afundar com uma âncora pesada, e não tem nenhuma intenção de soltá-la.
De cima ele pode ver a escuridão logo abaixo, e está escolhendo afundar junto a âncora, e não nadar ao topo com a força de seus braços... Não está levando a sério. Não está cuidando bem de si. Está caindo. E de lá, não poderemos ajudá-lo a voltar.
(Allan Wagner, 00:01 – 00:18, 11/09/2010)
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