quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Trabalho de Dramaturgia - 4º capítulo, 4 páginas – Misturando Textos.

Continuei ouvindo aquela respiração angustiada atravessar a parede, aquilo me assustava a cada passo.

Tudo continuava escuro, e sentia que, só por causa da situação, nada mudaria. O ar estava úmido e o fedor de algo podre parecia, a cada passo, mais forte. Minha garganta estava seca por causa do cheiro forte. Me perguntei como havia chegado ali... e pra que eu estava ali...

Eu errei bem na hora errada.

Parecia que o que eu precisava fazer era algo certo, era preciso, mas eu acabara de errar feio! Eu quero entender como eu fiz isso.

Não pensei duas vezes, corri como só eu sabia correr, bem mais rápido que todo mundo! Podiam mandar um Bugatti Veyron atrás de mim que ela não me pegava! Virei e nem olhei pra trás!

Pois nosso Senhor Ares, descera do Olimpo para nos auxiliar.

Algumas histórias corriam entre os soldados, alguns diziam que o general estava seguindo para o Olimpo para receber as bençãos dos deuses, ou talvez se torna-se um Deus como eles. Outras histórias diziam que ele agora entrava sozinho em batalhas em que centenas dos nossos não podiam lutar, estaria sacrificando sua vida, lutando sozinho para que poupássemos nossos homens... mas no final, descobrimos que o general apenas voltara para casa e estava com esposa e filha, aproveitando o luxo de suas vitórias.

Mas naquela tarde, ele havia chegado com o rosto marcado. Teria ele discutido com familiares? Assim como chegou saiu, o olhar dele percorreu o campo de treino e centenas dos nossos simplesmente o seguiram. Nossas tropas estavam alimentadas e prontas para qualquer coisa.

Então, a sineta tocou.

Saímos da sala de aula apressados pra tentar pegar uma bola cheia, queremos jogar queimada hoje, mas os 'garotos legais' sempre chegam primeiro!

Mas hoje, Ah! Hoje estávamos preparados! Pusemos cola-tudo em todas as bancas da sala de aula, e assim que a sineta tocou ninguém conseguiu se levantar além de nós! Está certo que a Musa da sala e outras três garotas ficaram só de calcinha... já que estavam de saia.

Naquele momento nos perguntamos se devíamos apreciar aquilo ou se corríamos... apreciamos por alguns segundos, suficientes pra se manterem em nossas mentes até o final do ensino médio! Saímos em disparada pro armário de bolas!

E depois de um minuto sem destino certo senti os pingos de chuva acertarem minha pele, em especial uma gota bem grande que socou meu couro cabeludo e escorreu até minhas costas, nossa, aquilo me deu uma agonia danada e me fez correr mais rápido que antes.

Comecei a ouvir passos furiosos atrás de mim, dei uma olhadela e vi alguns cães, pelo que deu pra notar, dois Pitbulls e um Rottweiler, e pelo bater das línguas em seus focinhos, estavam com muita fome! Eu também, mas acho que a última coisa que eu precisava pensar naquele momento era sobre comida! Mesmo que na minha cabeça só viesse a imagem de uma morena de quadris largos me servindo batatas fritas só de calcinha...

'O que está esperando?'

E nossos homens partiram em disparada, na direção dos pequenos vilarejos. O general ficou imóvel naquela colina. Dizimamos todos os vilarejos em menos de uma tarde... matamos todos os homens que poderiam erguer uma arma, já crianças e velhos foram poupados e deixamos que eles fugissem por entre a mata densa. As belas mulheres atenienses nos serviram bem durante toda a noite, seu sangue fora derramado ao amanhecer, assim que todos os nossos soldados se serviram com seus corpos.

Acorda!

Foi exatamente por causa de uma dessas que me meti nessa confusão! Três cães malucamente famintos foram soltos por uma baixinho metido a gângster e agora estavam me caçando!

Eu não devia ter me metido com aquela garota, não mesmo!

Tudo bem, ela é linda, a pele branquinha, cabelos negros encaracolados até bem perto da cintura, quadris largos, um bumbum lindo – bem do jeito que eu gosto – e seios que cabem na palma de minhas mãos... É um sonho, mas me ajudou a chegar nesse maldito pesadelo em que estou agora!

E ele, ele continuava no alto daquela colina.

Imaginei o que estaria pensando naquele momento... pouco depois do meio-dia ele desceu da colina e seguiu até o centro dos soldados.

Então eu apalpei as paredes, estavam úmidas e pareciam serem feitas de algum tipo de metal áspero, estavam geladas, praguejei baixinho, estava com medo que alguém indesejado ouvisse e também com raiva de mim mesmo naquela hora e não passava um segundo sem me questionar.

A respiração angustiada passou de quase inaudível pra uma respiração carregada e preocupada, estava acontecendo algo que eu talvez nem imaginasse do outro lado, a pessoa que estava lá, agora gemia baixinho, pedia ajuda, murmurava, como se estivesse há dias esperando alguém. A cada segundo era tomado, ao mesmo tempo, por medo e coragem...

Diante de tudo aquilo bem que ela podia ter me contado que o irmão mais velho dela era da mafia italiana - sim, aquela que a gente vê no Poderoso Chefão, eles tem até um Vito trabalhando pra eles! - e que eles se sentiriam insultados se eu não comesse a massa que a mãe deles fazia para as visitas, mas não! Ela esqueceu de me dizer essas pequenas coisas, eu poderia ter avisado a ela que era alérgico a massas e as pessoas não se incomodariam, não me olhariam com a cara amarrada, com os olhos cerrados e, definitivamente, não puxariam pistolas e soltariam os cães em cima de mim!

É de suma importancia saber que passei duas semanas sem encontrar o general depois do ocorrido... me lembro como se tivesse acontecido ontem...

'Hoje será o dia em que Atenas cairá!'

'Não passe daqui ou seu destino estará para sempre marcado!'

Ouvindo esse monte de besteiras senti que alguém passou rápido do meu lado, parecia estar brincando com minha falta de visão.

O coração acelerou e comecei a suar frio, quando estava sozinho procurando, tudo bem, mas naquele momento a angustia de saber que havia mais alguém ali me assustou... topei em algo e cai pesadamente no chão, exatamente em cima de uma poça de água, porém, ela fedia demais pra ser apenas água.

E enquanto corro penso seriamente que nunca mais devo me meter com uma garota que diga algo como 'meu irmão mais velho quer conhecer você, fica brincando, dizendo que seria legal ter o cunhado trabalhando junto nos trabalhos da família' e depois dá um sorrisinho bobo...

Eu devia ter desconfiado!

Mas não! A carne – e que carne – é fraca mesmo! Devia ter ficado com aquela guria da faculdade, tão linda quanto, a grande diferença era que era mais morena, cabelos cacheados e quadris menores! E aparentava gostar de mim... e tenho certeza que não tinha irmãos mafiosos ou algo assim!

E não demorou muito até que os grandalhões da oitava série apareceram e quiseram as bolas, mas dessa vez, não as abandonaríamos sem uma boa luta! Éramos apenas oito contra todos os malvadões das seis turmas da oitava!

Um segundo depois estávamos numa ferrenha batalha de bolas, sempre a bola acertava o focinho de uma aluno deles e retornava as mãos de um dos nossos! Porém, quanto mais atingíamos nossos inimigos com as bolas, mais deles pareciam surgir! Pareciam Zumbis ou Orcs enfurecidos! A cada dois que caíam três surgiam em seu lugar!

Sem que percebêssemos, alguns alunos de nossa sala – os poucos que haviam se soltado das cadeiras, inclusive a Musa, agora devidamente vestida com uma espécie de cobertor abaixo da cintura - passaram pelo ataque incansável de bolas e se juntaram ao nosso pequeno grupo! Agora éramos quinze!

Mas, opa, não ouço mais as patas dos cães estalando no chão, na verdade, agora que parei... onde diabos eu vim parar?

Um beco escuro... silêncio absoluto... tudo bem, nada de cães me seguindo...

'Pode sair agora, eu não sabia...'

Quem está falando? Nossa... é ela...

'Desculpe, nem imaginei que existia alguém que era alérgico a massas ou algo assim... vamos voltar, já expliquei tudo... e também já trouxemos os cães de volta.'

Andamos por dois dias, quando estávamos próximos de entrar nas terras da deusa Atena, de longe vimos pequenos vilarejos desprotegidos. O general olhou-os com profundo desprezo e seu olhar colidiu com o meu.

Ouvi eles... os gemidos agora eram mais fortes e altos, o barulho de algo arranhando as paredes ecoava na minha cabeça, era como se alguém estivesse tentando atravessar a parede e os passos que me assustaram estavam ainda mais próximos...

Não demorou muito, estávamos diante de uma cidadela, que, ao contrário dos pequenos vilarejos, possuía um pequeno templo... e um oráculo... uma pequena senhora, aparentando seus sessenta, setenta anos.

OK, agora eu volto... seguro firme na mão dela e voltamos pra casa dos pais dela... e olhem só... eles prepararam sorvete pra mim... agora sim, estou seriamente pensando em entrar na mafia... vou ter sorvete de graça!

No final reclamei da escuridão.

O Coliseu da Quadra da sétima série estava fervendo!

Amaldiçoei a coragem que me fez entrar nesse lugar no fim da rua.

Sorrimos e voltamos correndo para a sala...

Por muito tempo ficamos imaginando se, aquela batalha já não estava sendo planejada por anos, por gerações anteriores, mas nunca existiu um grupo com tanta vontade de mudança como o nosso...

O orgulho que há tanto nos foi tomado, agora havia sido estabelecido novamente, nenhuma outra geração de Nerds seria vista como desgraçada ou incompleta, éramos os novos semi-deuses daquele colégio.

(Allan Wagner, 20:52 – 22:12, 14/10/2010)

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