sábado, 14 de agosto de 2010

Cárcere.

Não são sequer seis horas da manhã, mas seus olhos já teimam em não fechar mais.

Deixou-a partir durante a noite, mas não deixou-a partir de verdade, era como estar privando-a de um vôo longo e sem escalas pra lugar nenhum.

Ele sabe que, se ela for, irá pra não mais voltar, irá e não pensará mais nele, nunca mais. E ela não sentirá nenhum remorso nisso.

Sente ela cantarolar baixinho em algum lugar, mas não sabe se está próxima a janela, ao seu lado na cama ou no banheiro escondida como costuma fazer.

O frio do inverno invade o quarto, mesmo que as janelas estejam todas fechadas.

O teto já acusa duas ou três infiltrações que irão derrubar o teto durante o inverno, e aquilo lhe custará boa parte do pouco que recebe, olhando para a esquerda sabe que o criado-mudo tem duas pernas bambas e que, se pôr uma pena a mais sobre ele, tudo desmorona. A sua direita apenas uma estante abarrotada de livros velhos da universidade.

Ouve ela bater na janela.

Teria ela conseguido escapar e agora estar pedindo abrigo batendo pelo lado de fora? Não, lá está ela, encostada na janela, batendo, pedindo pra sair.

Seus olhos percorrem mais uma vez o quarto, lembra de tudo entre eles até aquele momento, e também percebe que é realmente a hora de fazer aquilo. Caminha calmamente até a janela, ela apenas acompanha seus movimentos com a cabeça.

Acaricia ela suavemente e solta o ferrolho da janela, abrindo-a com muito pesar.

Ela olha rapidamente pra ele e não pensa duas vezes antes de sair daquele lugar, em pouco tempo já está longe o suficiente pra não ser mais vista. Fora do alcance de quem quizesse acompanhá-la.

Sentando de volta na cama ele olha por todo o quarto, criado-mudo, infiltrações, livros, estantes e há, agora, uma gaiola vazia, a qual ele não pretende voltar a ocupar.

(Allan Wagner, 05:25 - 05:38, 14/08/2010)

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