segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Covarde - Parte Um.

Era um covarde.

Todos sabiam, todos diziam. Ele sabia.

Era magro e fraco, morria de medo do que estava acontecendo, mas mesmo assim continuava a correr naquela direção.
Não sabia se o que o movia era o medo, uma súbita coragem ou uma extrema vontade de saber se ela ainda estava realmente viva.
Ouviu ela implorar por ajuda, dizia que não podiam abandoná-la, ela dizia... que queria viver... Conhecia a voz dela, sabia quem era ela, sempre soube e talvez fosse a última vez que a ouvia se não fizesse nada.
Chegou no local e viu os malditos, sedentos de sangue, caminhavam aleatoriamente pelo rua, mas estavam sendo guiados pelos pedidos desesperados dela...

'Por favor! Alguém... Me ajude... Eu não... Não quero morrer...'

Suas pernas estavam bambas com a visão dos mortos. Dezenas deles andavam na rua estreita, mesmo que chegasse até ela, como sairiam dali? E pra onde iriam? Como sobreviveriam? Pediu uma hora ao grupo que acompanhava, quis ir sozinho, queria fazer aquilo só... Achava que era o mais fraco do grupo, podiam abandoná-lo se desejassem, mas não iria deixar que algo acontecesse com ela...

Virou o boné e arrancou um cano de ferro que estava numa parede - obviamente com um pouco de dificuldade - e levantou as mangas da camiseta. Correu na direção dos mortos e atingiu o primeiro bem na nuca. O sangue espirrou como se fosse um vazamento na parede.

Atingiu mais sete ou oito assim, e continuou a seguir os gritos.

'Alguém... Por favor! Não, não nãããaaaahhh...'

Seu coração parou naquela hora, a voz gritava incessantemente, desesperada.
Ele havia perdido a noção de perigo naquele momento, então voou pra cima de quatro mortos e os agrediu ferozmente, a raiva tomava sua mente, continuou sendo guiado pela voz dela, agora sussurros abafados.

Virou num beco e viu uma aglomeração de mortos, mais de dez, com certeza, mas os atacou como se sua vida dependesse disso - e, indiretamente, dependia.
Matou todos - novamente - e sentou-se cansado... Olhou para os lados e viu apenas um corpo feminino deformado em cima de uma porta velha. Chorou compulsivamente.

'Cheguei... tar... tarde de... demais...'

Dois mortos entraram no beco... Ele os atacou violentamente, não importava se já não reagiam aos murros, pancadas e outras agressões, queria matar a todos, queria apenas que morressem e não levantassem de novo.

O silêncio do momento o fez chorar ainda mais...

Longe ele ouvia gemidos...

Esperava ouvir alguém lhe chamar, não queria mais levantar. Parecia não haver mais motivo pra se levantar...

Parecia não haver motivos pra viver...

...

Mas a porta começou a se erguer e ele se levantou com todo ódio que tinha. Mas rapidamente a expressão dele mudou.
Era ela. Havia, de alguma maneira, jogado a porta por cima do próprio corpo enquanto os monstros devoravam outra pessoa.

'V... você me ouviu? P... por isso você v... veio?'

Ele sorriu e ela retribuiu. Abraçaram-se mas não tinham muito tempo. Da hora que ele pedira ao grupo, já haviam se passado, no mínimo, cinquenta minutos...

'Essa garota... Ela me acompanhou do hospital até aqui... Ela me empurrou pra baixo da porta, ela disse que por eu ser médica, podia ajudar quem ainda estava vivo... Ela sacrificou a vida por mim, ela salvou minha vida... E agora, você também...'

Ele sorriu para ela. Bastava para acalmá-la, mas ele não conseguia manter essa calma. Um som abafado invadiu o beco, mais mortos entravam rápido, ele a arrastou para trás da porta e ambos ficaram protegidos, mas os mortos tentavam a todo custo derrubá-los, arrancar a porta das mãos deles.
Enfiou o cano pela fresta da porta, atravessando a cabeça de um dos monstros. Mas aquela não parecia uma batalha ganha...

'Vou sentir sua falta...'

Sussurrou, e logo depois segurou a mão dela com força...

(Allan Wagner, 20:02 - 20:25, 29/11/2010)

2 comentários:

  1. Eu já disse o quanto gosto dos teus textos sobre zumbis? =D Estou esperando a parte 2!

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  2. Hehe... Deu pra notar que sou bem viciado no assunto. Se acontecesse uma infestação, e caso eu não sobrevivesse (o que seria IMprovável) provavelmente seria o zumbi que andaria por ai com um sorriso no rosto... ^^'

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