quarta-feira, 17 de novembro de 2010

100 Dias.

Foi um longo período de espera...

Aguardava por sua chegada há algumas horas, mas parecia que o tempo não passava. Todas aquelas pessoas no porto aguardavam seus entes queridos, ele também. Faziam três meses e alguns dias, na verdade, naquela terça-feira faziam exatamente cem dias que os dois haviam se separado.

Olhava para o horizonte torcendo que a embarcação desse algum sinal, queria ver, mesmo que apenas um pequenino ponto negro.
Puxou a carteira de cigarros e arrumou o paletó cinza e o chapéu, puxou a gravata vinho um pouco pra baixo e tamborilou os dedos sobre o pacote. Olhou fixamente para a carteira, não fumava há exatos cem dias, e agora, loga agora, estava com uma vontade terrível de fumar... esperou que não ouvesse ninguém olhando e então puxou um dos cigarros e acendeu-o, olhou, ameaçou por na boca, mas apagou na madeira úmida do corrimão depois o jogou fora, junto com toda a carteira e também o isqueiro.

Começou a andar impacientemente de um lado para o outro, sentiu esbarrar com duas ou três pessoas, mas provavelmente todas estavam tão ansiosas como ele.

Na entrada do porto, seu amigo Giuseppe o aguardava sentado num Mustang 2010 preto. O carro era perfeito. Escondia sob o capô quase quinhentos cavalos de potência - alcançava de zero a cem quilômetros em pouco mais de três segundos - e o negro da lataria refletia perfeitamente o Sol, as rodas aro 19 tinha um desenho magnífico e os vidros eram revestido com fumê. Ele era apaixonado por aquele carro, mas no momento o veículo mais lhe parecia um fusquinha velho diante da espera.

Olhou para uma família sentada próxima a ele.

Duas crianças saudáveis corriam e volta do banco, uma menina e um menino, provavelmente gêmeos, seus rostos eram idênticos, a pele era bem branca e as bochechas rosadas. Os cabelos eram cor de mel, os da menina amarrados em duas tranças e o do garotinho no estilo de 'cuia'. Eram crianças lindas. Seus pais também. O senhor que aparentava ser o pai parecia ter seus quarenta, quarenta e cinco anos, sorria enquanto estava sentado olhando para os filhos ativos, seus cabelos - já um pouco ralos - eram cor de mel, como o dos filhos. Tinha um nariz protuberante, não herdado por ele, mas magníficos olhos verdes que os passara. Estava nervoso, tamborilava os dedos nos cantos do banco rapidamente. O homem olhou para ele e rapidamente abriu um largo sorriso amistoso.

A senhora, a mãe, tinha um rosto belo, também aparentava seus quarenta anos. Os cabelos bem negros e lisos, a boca bem torneada e carnuda e o pequeno nariz que fornecera aos filhos. Lia uma revista qualquer, provavelmente para que o tempo passasse mais rápido...

Seus rostos lhe eram familiares, mas não sabia o motivo, olhou o horizonte fixamente, e, em cinco minutos, viu a embarcação se aproximando rapidamente. Abriu um largo sorriso.

Em menos de dez minutos o imenso barco atracara no porto e em meia hora as pessoas desciam animadas, e os que as esperavam estavam ainda mais animadas.

Procurou por ela, andava entre o povo e não a encontrara, num impulso, talvez um sexto sentido olhou para a família que estava a pouco observando... e lá estava ela.

Os cabelos cor de mel longos e lisos, a pele branca, a boca protuberante e os olhos verdes. Então era isso, sabia de onde conhecia aquela família, mesmo que nunca os tivesse encontrado, sabia o motivo de conhecê-los. Ela o viu e se aproximou rápido com um sorriso lindo. O beijou e olhou bem fundo nos olhos dele, aquilo já traduzia tudo o que sentia.

- Vem amor, quero te apresentar minha família! - e ela o puxou pelo braço carinhosamente.

O resto da tarde foi como qualquer outra.

Todas as pessoas que no porto estavam saíram e foram para suas casas, foram jantar, comemorar, agradecer pelo retorno daqueles que amavam, mas o que aconteceu com o dono do Mustang 2010 não interessa muito no momento, só interessa saber que ele a encontrou, e aquilo lhe bastava pelas próximas duas vidas que teria pela frente...

(Allan Wagner, 15:32 - 15:55, 16/11/2010)

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