domingo, 27 de fevereiro de 2011

Me Deixa...

Me deixa falar o que sinto, me deixa falar do que eu quiser, então me deixa falar do meu amor.
Deixa eu falar que dentro de mim ele nunca foi embora, mas também preciso dizer que eu tentei matá-lo infinitas vezes, dele só quis ouvir mentiras, inventei mentiras dentro de mim pra que ele fosse embora, mas quanto mais eu mentia, mas forte ele ficava.
Criei um mundo pra jogá-lo, um mundo em que ele era o maior vilão, um mundo em que ele e só ele estava errado, e nesse mundo que o havia deixado apenas lhe deixou mais forte.
De tempos em tempos esse mundo me relatava de seu crescimento, e quanto maior e mais forte ele parecia, maior era a mentira que eu criava pra tentar enfraquecê-lo, mas ele continuava a crescer.
Decidi então trancá-lo.
Decidi jogar as chaves fora.
Comecei a expressar minha crescente dor.
Comecei a transformar o antigo amor no vilão da minha vida.
Ele não poderia crescer mais que o tamanho do mundo que o joguei.
Então ele pareceu parar, acalmou, ignorou minha existência, minha presença parecia não fazê-lo agir, então eu continuei.
Me joguei num mundo onde não havia amor, passei anos sentindo o que meu corpo queria e ignorando o espírito, que se mantinha, continuava incompleto. Olhava para todos os lados e nenhum deles me fazia sentir algo. Nada.

Então pensei ter entrado num mundo novo, um mundo o qual eu criaria um novo amor e esse destruiria aquele que o amor antigo havia deixado.

Abri meu coração.

Doei todas as chaves que nunca havia entregue com medo que esse novo amor fosse embora como o antigo.
Deixei que ele vasculhasse tudo.
Deixei que bagunçasse tudo, tirasse tudo do lugar.
Então esse novo amor apenas achou tudo muito desinteressante.
Esse novo amor não queria conhecer nada.
Não queria saber como eram os cômodos, não se interessava em crescer ali dentro.
Esse novo amor apenas me machucava, e aos poucos se matava.
Esse amor trancou a porta principal e jogou as chaves por aí, onde eu não sabia procurar, em algum lugar que eu nunca conheci.
Então um dia aquele amor antigo, escondido, naquele mundo que fora jogado de lado, mandou um sinal, de algum lugar, mostrou que estava lá.

No final, eu ainda sinto a tua falta.

Ele pulsou, e apagou.
A dor daquele amor antigo levou a dores maiores.
Que de tão grandes se tornaram insuportáveis.
Então o novo amor quis mostrar seu interesse, mesmo sem saber de nada, parecia sentir que meus cômodos estavam apodrecendo.
Então ele voltou, limpou tudo, pôs tudo em seu devido lugar, parecia estar pronto pra finalmente crescer.
Me entregou as chaves que eu pensava ter perdido.

E foi embora.

Deixou um sorriso de um bom trabalho feito, e levou consigo as saudades que poderiam crescer.
Certificou-se que nada sobraria, pra que eu não sofresse.

E tudo ficou vazio de novo. Tudo estava abandonado novamente.
Então as perdas que tive me fizeram correr atrás de tudo o que valia a pena.
E decidi rever aquele antigo amor, mas meu coração estava pacífico. Não queria ver aquele antigo amor para reanimá-lo, apenas para saber que ele nunca foi um vilão.
Mas aquele antigo amor ditou palavras confusas.
E aquele mundo no qual eu o havia prendido explodiu, e o antigo amor tentou me invadir, pulando janelas e chutando portas. Mas o contive.
Minha boca ficou seca, meu corpo se contraiu para que não acontecesse nada.
Mas tantas lágrimas vazaram sem que eu soubesse o motivo.
A felicidade e a tristeza, o carinho e a raiva, a solidão e a presença, todos eles apareceram de uma só vez.

E tudo ficou confuso.

Tudo está confuso.

Não tenho mais certezas, nem quero tê-las.
Elas irão me enganar. Elas irão me engolir se tivé-las ao meu lado.
Irão me fazer pensar que estou certo enquanto estiver cego me afogando no erro.
Pois sei que esse meu antigo amor, desde sempre, está confuso, incerto e com medo.
O mesmo medo que me engole e me assusta.
Não quero que ele saiba das minhas incertezas, mas também não quero que ele saiba de minhas certezas inexistentes.
Só preciso que ele saiba que eu compreendi todas as suas palavras por mais francas e menos claras que elas sejam.
E que, mesmo com um tornado de sentimentos que suas palavras soltaram, eu entendo.

Pois meu plano ainda é ficar bem...

(Allan Wagner, 19:13 - 19:54, 27/02/2011)

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