segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Boneca de Lobo.
É a emoção que nos guia,
trevas e silêncio pela noite,
e a mesma emoção,
que estou procurando em você,
partilhando o medo em meu coração,
você, não mais além.
No dia que você passar pela chuva,
quando precisar de mim para se alimentar,
Serei seu banquete, a tentativa de sobrevivência,
daí então nós veremos a nova luz.
Darei minha vida,
não mais por honra, mas por você,
e que em meu tempo não haja mais nenhuma,
não importa se for crime, irei até você,
em transe, em um sonho.
(Allan Wagner, 19:15 - 19:23, 31/12/2012)
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Cedo, à hora.
Era meu o costume de pensar que eu não podia prosseguir,
que a vida não era nada, além de uma música ruim,
mas agora, talvez, eu veja o significado do que é verdadeiro,
pois eu estou usando todas as minhas últimas armas.
estive no limite, me destruindo,
quantas vezes o silêncio foi insuportável
eu não creio que hajam milagres,
então percebi que primeiro,
tudo começa dentro de mim.
Se eu posso ver, então posso fazer,
se acreditar, nada me impede.
Eu acredito em mim,
pois acredito em você.
(Allan Wagner, 00:10 - 00:16, 22/12/2012)
que a vida não era nada, além de uma música ruim,
mas agora, talvez, eu veja o significado do que é verdadeiro,
pois eu estou usando todas as minhas últimas armas.
estive no limite, me destruindo,
quantas vezes o silêncio foi insuportável
eu não creio que hajam milagres,
então percebi que primeiro,
tudo começa dentro de mim.
Se eu posso ver, então posso fazer,
se acreditar, nada me impede.
Eu acredito em mim,
pois acredito em você.
(Allan Wagner, 00:10 - 00:16, 22/12/2012)
No Fim do Mundo.
Era cedo, é cedo. Gritos desde cedo.
Desespero de inocentes e crianças.
Culpados, pecadores e salafrários.
Há gemidos, há fogo.
Há escuridão, há dor.
Prepare-se para o fim.
Sorria quando ele chegar.
Pois não adianta quando você possa correr, tentar.
Seja onde for, a fome, a escuridão, a dor, todos...
Todos vão te pegar.
(Allan Wagner, 22:50 - 22:55, 21/12/2012)
Desespero de inocentes e crianças.
Culpados, pecadores e salafrários.
Há gemidos, há fogo.
Há escuridão, há dor.
Prepare-se para o fim.
Sorria quando ele chegar.
Pois não adianta quando você possa correr, tentar.
Seja onde for, a fome, a escuridão, a dor, todos...
Todos vão te pegar.
(Allan Wagner, 22:50 - 22:55, 21/12/2012)
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
78.
Ainda há mãos, ainda há milagres,
ainda há sorrisos, ainda há fases,
ainda podemos ver os montros,
ainda conseguimos ver as estrelas,
ainda podemos correr pelas árvores,
imaginar os monstros segurando nossas mãos,
desejando a felicidade de seus devorados.
Sorria, eles não vão te assutar.
(Allan Wagner, 23:35-23:40, 11/12/2012)
ainda há sorrisos, ainda há fases,
ainda podemos ver os montros,
ainda conseguimos ver as estrelas,
ainda podemos correr pelas árvores,
imaginar os monstros segurando nossas mãos,
desejando a felicidade de seus devorados.
Sorria, eles não vão te assutar.
(Allan Wagner, 23:35-23:40, 11/12/2012)
Os Guias - Prólogo
Ajoelhou-se, retirou os restos de
madeira de cima do corpo. Devia estar ali há pelo menos um mês, já estava
podre, mas estava quieto. Cutucou com os restos com a faca e nenhuma reação.
Tirou o chapéu, fez o sinal da cruz, roubou o cantil e uma garrafa d’água do
corpo, arrancou uma lanterna pequena amarrada na cintura e viu nas mãos do
cadáver alguns papéis e um pedaço de carvão, ao lado dele também havia dois ou
três lápis.
Retirou os papéis, olhou para os
outros dois que estavam entrando no telhado e começou a ler em voz alta.
“Hoje acordei bem cedo, fiz o que
fazia todos os dias: lavei o rosto, comi dois pedaços de pão seco, um pouco de
água e pus a mochila nas costas. Sai em seguida e, como sempre, pulei a janela,
deitei a escada para que ninguém pudesse invadir e escondi embaixo dos restos
da cortina que estavam no térreo. Por fim tomei meu rumo pelo corredor lateral
do prédio.
O Sol ainda não estava forte,
deviam ser umas cinco ou seis da manhã, não era tarde. Como de costume, tirei o
machado que escondi por trás de um monte de madeira que estava antes do portão.
Assim que cheguei no final do corredor, retirei as correntes que ‘fechavam’ o
portão de ferro, antes de abrir, dei uma olhada nos dois lados da rua.
Tudo bem, nenhum deles.
A rua não é asfaltada, a poeira
levanta graças ao vento. E isso não é bom, o vento assim tão cedo não é bom. Enfim,
mesmo receoso, precisei sair. A água estava no fim, o alimento estava no fim,
e, principalmente, o papel higiênico estava no fim. Andei por vinte minutos,
até que cheguei a um cruzamento. Espreitei as esquinas e não vi nada, o que era
estranho. O Sol agora já começava a fazer efeito, deviam ser umas seis, seis e
meia da manhã e nenhum deles pelas ruas.
Não sei quanto tempo passei
andando, mas fui longe, muito longe, e não vi nenhum deles. Por um momento
pensei que tudo tivesse finalmente acabado. Agora era só esperar algum tipo de
resgate, não sei. Até que encontrei esse salão. Um velho salão de beleza.
Olhando pela porta de vidro vi duas garrafas de água e, ao que parecia, carne.
E carne ainda boa, bem vermelha, ainda sangrando. Carne de rato, gato,
cachorro, nem me importava, queria aquela carne. Corri até as duas esquinas,
ninguém, nada.
Peguei uma pedra pequena e joguei
na porta, o barulho ecoou na rua. Parei, olhei pros lados e nada, mais uma vez
eu espreitei as esquinas e nada. Nunca fiquei tão feliz na vida. Entrei no
salão e esvaziei uma das garrafas e peguei a carne, pus na bolsa e sai, andei
por mais dois quarteirões, e vi que o bairro era basicamente de prédios. Ouvi gritos.
Vem fácil, vai fácil.
Corri até a origem dos gritos, e,
enfim, vi duas garotas correndo desesperadamente, mas sem ninguém em seu
encalço. Chamei as duas, que correram na minha direção. Falavam tão rápido que
não entendi quase nada, mas pelo que deu pra entender, eles estavam por perto,
e eram centenas, talvez milhares. Eu lembro que eu ri, e logo depois seguimos
pra um dos prédios – um dos altos, uns seis andares acho –, sem hesitar eu
estourei duas janelas e arrombei uma porta, estava cansado, mas ambas choravam
tanto que nem parei pra pensar. Quando chegamos no topo do prédio o Sol já
estava alto e insuportável.
Lágrimas encheram meus olhos. Enquanto
subíamos, centenas deles farejaram e arrombavam portas, agora estavam cercando o
prédio, me abaixei automaticamente e derrubei as duas no chão. Me arrastei até
o tampão que servia de entrada pro telhado do prédio e voltei. Todos estávamos
deitados, e eu não conseguia pensar, e com as duas chorando eu começava a
perder a calma. No momento olhei fixamente
para ambas, uma devia ter seus dez ou onze anos, a segunda era um
pouco mais velha, talvez dezesseis anos, parecia muito com minha filha. Respirei fundo, não havia mais saída.
Em meio aos gemidos e sussurros das monstruosidades decidi voltar pelo portal e tentar vasculhar o andar abaixo do telhado, mas a garota mais nova parecia estar cada vez mais desesperada e surtou assim que mencionei tentar abrir o portal que nos levara até ali, ela gritou, esperneou, brigou com a irmã e numa tentativa de se desvencilhar da irmã que a abraçara para tentar acalmá-la, tropeçou no parapeito do prédio, ambas escorregaram, não tive tempo nem de esticar os braços. Foi um banquete pr'aquelas coisas.
Elas caíram de cabeça, não sei se morreram na hora, houve apenas o silêncio após o som seco delas caindo no asfalto... mas o grito durante a
queda ainda me assombra. Em questão de segundos seus membros estavam sendo disputados por vários
deles.”
Nesse momento, os três respiraram
fundo. A letra agora parecia mais grossa e tremida, e visivelmente havia sido
escrita com carvão.
"Segurei a maçaneta da porta, minhas pernas tremiam. Decidi olhar pelo parapeito mas foi um erro. Fui visto. Senti o trepidar da construção com as hordas invadindo os corredores.
Não pensei muito, corri e pulei
para o telhado do lado. Eram três andares a menos. Minhas pernas quebraram, a
dor foi inexplicável, parecia que alguém havia martelado meu joelho pra
baixo, minha cintura ainda está formigando, minhas costas muito doloridas. Me
arrastei mais dois metros e com o que tinha de força nos braços pus os restos
de uma porta sobre meu corpo – então ouvi o estouro do tampão do telhado ser
aberto. Ainda era um alvo fácil, mas mesmo assim, mesmo que eles estivessem no
outro prédio, naquele último andar, não me viram. Antes do fim da tarde, parei
de ouvir o barulho de carne sendo rasgada e os gemidos.
Está amanhecendo, e eu passei a
noite escrevendo isso. Não consigo mais mover minhas pernas. Por favor, se
encontrar meu corpo, por favor, pegue o que lhe for útil, além da água, que não
irei beber, ainda tenho uma pequena faca na minha cintura e a pequena lanterna
que me ajudou a escrever tudo. Não pude salvar sequer crianças e por fim não me salvei. Peço perdão a Deus por tudo o que fiz,
imploro perdão e peço para que, seja quem for que venha encontrar meu corpo e
que venha a ler saiba que em minhas últimas horas
pedirei a Deus que te guie pra fora desse caos.”
O silêncio durou alguns minutos.
Os três olharam fixamente para o
corpo.
- A carne já deve estar
estragada, mas podemos tentar aproveitar a faca.
- Pegue o que precisar, só vamos
sair daqui. Não quero que aquelas coisas nos peguem.
Tiraram o que acharam de útil no
corpo, puseram o homem de costas, o cobriram com um lençol velho e saíram.
(Allan Wagner, 11/12/2012, 20:35
- 22:10)
Assinar:
Postagens (Atom)